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É-me igual


(foto de Filipe Ferreira)


Já o disse diversas vezes: não sei bem de onde vêm as canções. Às vezes gostava de saber, talvez fosse mais simples ir a esse sítio apanhá-las quando me apetecesse, mas é possível que o mistério delas se desvanecesse. Já fiz muitas canções e nem sempre me lembro da circunstância que as fez aparecer, mas no caso do tema "É-me Igual", é um momento muito claro na minha memória. Os acordes apareceram por acaso, estava a experimentar sequências simples na guitarra e esta apareceu. De repente, foi como se alguém estivesse a segredar-me estas palavras ao ouvido e, em pouco mais de meia-hora, a canção estava à minha frente.


"É-me igual

E o que me importa

Atiçar o fogo se o que me conforta é o teu calor

Quando é que vens?

O que me importa se na tv

Se lança o terror quando alguém prevê uma guerra mundial

É-me igual"


O tema fala de solidão e abandono, uma espécie de transe que faz desaparecer tudo à sua volta. Quando o escrevi não era esse o meu estado de espírito, não me parece que seja possível construir algo quando se está trancado dentro de um mundo interior, mas acredito que toda a gente já se sentiu assim pelo menos uma vez na vida.


Nunca sei bem o que fazer com este tipo de canções, são muito sombrias e enevoadas por um certo espírito derrotista que não me é muito próprio. Mas até um optimista por natureza tem as suas quedas e talvez pareçam mais duras por contraste com as partes mais luminosas e frequentes da minha vida. Acabo sempre por pensar que canções como esta encontrarão alguém do outro lado que se possa identificar com ela e, de alguma maneira, que possam quebrar por um momento essa ideia de solidão.


"É-me igual

Sem o teu regresso

Tudo me queima, nada me aquece no bem e no mal

Diz-me que vens

Viro canais, vejo sem ver

As coisas banais, o tempo a correr nos telejornais

É-me igual"


Lancei-a num lado B em vinil num dos singles de "Futuro Eu", talvez para afastar toda esta melancolia do disco, mas acabou por ser uma das minhas favoritas dessa altura. Continuo a gostar dela como da primeira vez que apareceu nas minhas mãos. Que a solidão e melancolia venha sempre acompanhada de acordes, sempre se transforma em algo que nos liga ao mundo inteiro.


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