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Iniciei esta canção a partir de um excerto de Mozart (Sinfonia 40 em Sol Menor), algures a tocar num salão vazio de uma casa antiga. Habitada por fantasmas e histórias do passado, a canção evoca as ideias de perda e desilusão num certo tom confessional, com o som de passos a percorrer quase todo o tema, a andar em frente enquanto se olha para trás.


Neste episódio pude contar com talentos excepcionais: o actor Joaquim Monchique, aqui a personificar uma das figuras que habitam o meu imaginário mais autocrítico e corrosivo, os bailarinos Tiago Lobo e Ana Luísa Oliveira a lançarem-se intensamente pelo salão onde Mozart repete as suas notas e a bailarina/coreógrafa Filipa Peraltinha, que contracenou comigo no segmento escrito e realizado por André Tentúgal. Um conjunto de talentos incríveis reunidos neste episódio de “Living Room Bohemian Apocalypse”, a abrir mais uma porta do meu palácio emocional.



Escrevi esta canção em muitos dias diferentes, mas tenho a certeza que num deles estava à beira de uma piscina com um sintetizador minúsculo, longe da civilização. Mais tarde, estava confinado em casa a sonhar com a piscina e com os mergulhos que não dei (porque levei eu um sintetizador para uma piscina?!).


"Live It Up" é uma canção sobre o agora. Não é sobre os problemas de ontem ou sobre as dúvidas do amanhã, é sobre a festa adormecida em cada um de nós que pode despertar a qualquer momento. É possível que para tal se tenha de quebrar algumas regras enquanto se joga pingue-pongue, conduz tuk-tuk pelo meio de um armazém a caminho de um casamento ou deixar que o corpo seja seduzido pelo chamamento da dança e foi por isso que arranjei a companhia perfeita para este regabofe.


Noutro dia falo dessa força da natureza chamada Filomena Cautela, para já deixo-vos o segundo capítulo do meu álbum visual "Living Room Bohemian Apocalypse": "LIVE IT UP!"


São muitos os meses que antecedem esta publicação, desde o momento em que tudo era um pedaço abstracto de sons e imagens até estar aqui à vossa frente. Uma viagem longa que culmina aqui, convosco.


A minha música sempre respondeu ao impulso das situações e pessoas que se cruzam na minha vida, estando desde sempre ligada a esse movimento constante que me empurra a escrever, imaginar, a criar um universo que dialogue com as questões dos dias, das horas ou de um minuto particular. Nos últimos dois anos, esse diálogo foi quebrado pelas regras do distanciamento social e afastou-me dessa conversa diária com os outros, uma interferência que me colocou num lugar inesperado e que fez surgir o que agora apresento.


Isolado do mundo normal, recusei-me a escrever sobre esse silêncio vago dos dias e resolvi abrir a porta para uma mansão há muito fechada, habitada por fantasmas e recordações do passado. Mais do que um exercício nostálgico, quis escrever canções que falassem de alguns momentos-chave pessoais e olhá-los à luz do presente. Dei por mim a visitar uma casa de espelhos distorcidos, a atravessar corredores em chamas, a encontrar velhos amigos e outras surpresas pelo caminho.


Quando escrevi estas canções, o universo visual delas era muito claro para mim e depressa percebi que era uma oportunidade única para levar a cabo um sonho antigo: construir um disco que pudesse ser uma experiência visual, uma aproximação possível ao meu universo criativo com todo o grau de caos e surrealismo que está presente em toda a música que faço. Desenhou-se assim este “Living Room Bohemian Apocalypse”, uma fantasia musical em imagens e sons que leva cada uma destas canções ao seu lugar de imaginação e mistério. Sete canções para sete episódios que contam a história desta viagem intensa a cada lugar musical abstracto.

A primeira canção/episódio foi um dos objectos artísticos que mais gostei de escrever nos últimos anos. No momento em que nada podíamos fazer senão isolarmo-nos, o meu impulso criativo foi no sentido contrário e escrevi uma canção que cavalga à beira do oceano sem uma direcção específica. Lembro-me de querer escrever uma canção que durasse horas, dias, que tentasse retratar o impulso do desejo e da descoberta, uma perseguição perigosa em direcção a uma luz desconhecida. O resultado foi “Chasing the Light”, um épico de quase 9 minutos que fala dessa insatisfação que me empurra desde o primeiro dia para uma estrada longa onde nunca se vê o fim. É uma mistura improvável de alegria, medo, coragem, determinação e loucura que me leva a acelerar constantemente por essa estrada, uma curiosidade pelo mundo que teima em permanecer à superfície ao longo de todos estes anos. O primeiro episódio do filme visita estas ideias através de vários talentos artísticos singulares e visita lugares do meu passado e presente, sempre sob o olhar pesado do tempo, aqui retratado com a urgência de um cronómetro que parece torná-lo ainda mais exíguo. É a porta de entrada desta mansão abandonada imaginada que começa agora a sua visita guiada pelo mundo real. Bem-vindos!

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